O Pai Nosso
Quando Jesus estava pregando o seu famoso Sermão da Montanha, aquele em que houve o milagre da multiplicação dos pães, ele nos trouxe, entre outras palavras, aquelas que ficaram conhecidas como a oração do "Pai Nosso".
Em Mateus, capítulo 6, versículo 7, ele nos diz, "não useis de vãs repetições", como faziam os fariseus de seu tempo, e no versículo 8 diz, que Deus sabe o que nos é necessário antes mesmo de pedirmos, e complementa no versículo 9: "de modo que quando rezarem, façam assim:", e inicia a ensinar a prece. Com estas palavras, Jesus quer dizer que não existe uma fórmula para falar com Deus. Se assim fosse ele diria, repitam estas palavras. Mas não, ele disse, deste modo, com isso ele definiu a forma e não o conteúdo de nossas preces.
O Pai Nosso já foi chamado de um pequeno resumo dos evangelhos. Ela é curta de direta, densa em seu conteúdo e leve em suas palavras, é fácil e inteligível para qualquer pessoa. Usemos ela como um exemplo para nossas próprias preces.
A prece é dividida em três partes: 1. Prefácio, 2. Petições e 3. Conclusão.
Seu prefácio é composto de "Pai Nosso" e "Que estás no céu". Na primeira parte, logo surge um ponto importante. Quem é o pai a que ele se refere ? A segunda parte do prefácio nos indica isso, "que estás no céu". Obviamente não é aquele a quem costumamos chamar de pai, que nos trouxe ao mundo ou que nos criou. Jesus sempre se referiu a Deus como a Meu Pai, de modo que é a Ele a que a prece se direciona. Claro que a palavra céu aqui não é um lugar físico. Não é em cima nem em baixo, mas no universo, em toda parte. N’O Livro dos Espíritos, a primeira pergunta é, o que é Deus, e a resposta é: A causa primária de todas as coisas. Sendo Deus a causa primária, é a Ele que devemos dirigir inicialmente nossos pensamentos. Primeiro Deus, antes de tudo e de todos. É o que nos ensina o Pai Nosso.
Mas porque pai ? Que queria dizer Jesus com isso ? Em que sentido Deus é pai para nós ?
Primeiramente por criação. Uma vez que Ele é a causa primária de todas as coisas, Ele é também a causa de nossa existência. Devemos nossas vidas a Ele, assim, como criação d’Ele, criaturas feitas por Ele, podemos ser chamados também de filhos d’Ele.
Mas a aceitação deste fato implica em outro muito importante. Na medida quem e somos todos filhos d’Ele, e que Ele é um pai amoroso, infinitamente justo e bom, então somos todos iguais perante Ele. Em Lucas, capítulo 20, versículo 36 existe este comentário: "Pois que Deus faz seus filhos iguais em hora aos anjos". Assim, ao aceitarmos Deus como pai, aceitamos sua justiça e sua sabedoria. O que nos dá consolo, pois muitas vezes não entendemos o porque do que nos acontece, mas se Deus é justo e bom, então, seja lá o que for, é o mais certo para nós. Lembremo-nos que Jesus avisou antes, que Deus sabe o que necessitamos antes de pedirmos.
Também quando aceitamos a Deus como pai, criamos um vínculo com o nosso próximo. Lembre-se, é pai NOSSO, de todos nós. Não é pai meu, meu pai, pai de meu pai ou qualquer outra forma de apropriação. E se somos todos filhos do mesmo pai, temos a obrigação de aceitar e conviver com o próximo como nosso irmão. Assim, não temos mais um estranho sentado ao nosso lado, temos apenas um irmão que desconhecemos o nome. E por um irmão temos obrigações maiores do que para com um estranho. Gostemos ou não, ao irmão devemos ajudar quando preciso. Gostemos ou não, o irmão está ligado a nós. Ele pode não saber corresponder aos nossos sentimentos, mas isto não nos exime de nossa obrigação para com ele.
Assim, quando iniciarmos a oração, não digamos a frase "Pai Nosso" automaticamente. Façamos uma pausa. Meditemos, em tudo o que significa isso. Tudo o que quer dizer "Pai Nosso".
Em seguida vem a parte das petições, dos pedidos, são seis no total. O primeiro deles é: Santificado seja vosso nome. Porque santificar um nome ? No fundo Deus não tem nome. Nós o chamamos de diversas formas, mas não são nomes próprios. Alguns usam Jeová, outros Alá, mas não são nomes de verdade, são palavras de outras línguas que querem dizer a mesma coisa: Deus. Não é o nome de Deus que devemos santificar, pois ele não existe, mas a sua idéia, sua essência. Como Deus não tem nome, ele só pode ser concebido pela idéia do que Ele é.
O que é santificar o Seu nome então ?. É colocar Deus em nossas mentes e corações com respeito e amor o tempo todo. É reconhecer que Seu nome, Sua marca, está em tudo e todos nós, pois que tudo é obra d’Ele, desde a grama que pisamos até a maior das estrelas.
Santificar o nome de Deus é confiar em Sua sabedoria e bondade infinitas. É aceitar Seus desígnios sem reclamar. É obedecer Suas leis.
A segunda petição é: "Venha a nós o vosso reino". Que reino é esse ? Claro que é toda a criação. Deus reina sobre todos nós. Aceitar a Deus com um soberano, é aceitar também a Sua vontade, pois se somos súditos d’Ele, devemos obediência.
Mas que reino é esse que deve vir até nós ? Primeiramente podemos dizer que este reino não é político, local, não é um país, não é um sistema ou modo de vida material. O reino de Deus é espiritual. Ele existe na consciência de cada um de nós. Colocado lá, no momento de nossa criação, como centelha divina, ele é o destino para o qual fomos criados. O reino de Deus é a convivência com Ele, é a perfeição d’Ele. E esta perfeição só pode ser atingida pela evolução.
Porque queremos que este reino venha até nós ? Porque temos consciência de que não estamos nele. Sabemos que precisamos melhorar, aceitamos o fato de que cometemos erros. Assim, como o reino dele chega até nós ? É quando procuramos evoluir, quando tentamos, dia a dia, prece a prece, melhorar a nós mesmos.
E a melhor forma de evolução, é seguindo as leis de Deus. É procurando conhece-las, aceita-las e aplica-las. E Jesus já nos deu a maior delas, já informou que a primeira lei de todas, é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. E o próximo, já vimos antes, é aquele nosso irmão. Distribuamos amor, como Deus distribui o tempo todo para nós.
A terceira petição é: "Seja feita vossa vontade, assim na terra como no céu".
Esta petição se divide em duas partes. Primeiramente "Seja feita a vossa vontade" vem nos lembrar a necessidade de aceitação dos desígnios do Pai. Já aceitamos Ele como tal, já compreendemos que Ele é infinitamente justo e bom. Agora, com esta frase, nos pedimos por duas coisas: aceitação passiva, que é ter paciência, tolerância e paz para tudo o que nos acontece que não podemos mudar e a aceitação ativa, na qual praticamos tudo o que Ele nos diz. Assim pedimos forças para perseverar, continuar em frente, não desanimar, conscientes de que tudo o que acontece é o melhor para nós.
Ao fazer a vontade de Deus, nós evidenciamos nossa sinceridade perante sua vontade, demonstramos ao próximo, nosso irmão, como ele deve agir também. Ao seguir as leis de Deus, seguimos também a lei de progresso, que nos faz evoluir. Isso tudo nos dá a certeza e garantia do dever cumprido. André Luiz, um espírito que escreveu muitos livros disse certa vez: "Àquele que faz o que pode, é garantido o salário da paz".
Na segunda parte da petição temos: "como no céu". Já comentamos que o céu a que nos referimos aqui não é lá em cima, mas no mundo espiritual, na vida não material. Claro que podemos fazer tudo muito bem aqui, na frente de todo mundo, mas qual a nossa intenção ao fazer isso tudo ? Ou seja, o que se vai em nosso íntimo ?
A parte do céu de que falamos, é o nosso eu interior, nossos sentimentos e vontades. Tudo o que fazemos, deve ser com pureza de coração. Podemos até errar. De fato erraremos mesmo, pois nosso caminho para a perfeição ainda é longo de difícil, mas com boa intenção. De nada vale ajudar o próximo apenas pensando no cantinho do céu que se está comprando. Jesus nos demonstrou isso na parábola da viúva. Mais vale um centavo dado de coração puro do que um milhão sem esta boa intenção.
Vale aqui um lembrete. Pureza de coração não é perfeição de coração. Não devemos esperar de nós melhor atitude daquela que somos capazes de dar. Se fazemos o bem, mas fica ainda uma dúvida: "Será que estou agindo com verdadeira pureza de coração", ainda assim, é melhor do que não fazer nada. Pois por pouco valor que tivesse aquele milhão perante o centavo da viúva, ainda era mais do que aquele que nada deu. A procura da perfeição é uma estrada longa, cheia de obstáculos. Não devemos desanimar, devemos seguir em frente, esta sim é a verdadeira mensagem de fazer a vontade de Deus.
A quarta petição é: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje".
Sua posição, após a última, que era "Seja feita Sua vontade" já é significativa. Primeiramente vem as coisas espirituais. Agora vem as coisas materiais.
Que pão é este que falamos aqui. É o alimento. Durante muito tempo, nos mais diversos povos, o pão sempre foi o símbolo do alimento. Não estamos pedindo aqui um pedaço de pão, mas o alimento necessário à nossa subsistência. Aos animais, Deus sempre provê, sempre garante o sustento, mas ao homem, é necessário o trabalho, "ganharás o teu pão com o suor de teu rosto". Assim, quando pedimos o pão, pedimos sim é a garantia do nosso sustento. Mas isso implica também que estamos dispostos a receber esta ajuda. Que quando as condições forem atendidas, nós faremos a nossa parte. Mas como assim ? Ora, basta lembrar que ninguém sai, de porta em porta oferecendo trabalho. Pelo contrário, é preciso lutar para conseguir e manter um trabalho. Esta é a nossa parte.
Jesus também falou, mais adiante, que nem só de pão vive o homem. Que quis ele dizer com isso ? Que o alimento que necessitamos vai muito além de nossa fome de comer. Temos fome de viver, fome de aprender, fome de crescer. Assim, esta fome também deve ser saciada.
Agora, quando no final da frase falamos: "nos dai", temos aqui mais algumas coisas para pensar. Porque pedimos a Ele que nos dê algo ? Aqui exprimimos o sentimento de que tudo o que é bom, vem de Deus. Tudo o que temos, tudo o que somos, são presentes de Sua bondade. Assim, se procuramos por coisas boas, vamos até Ele.
Mas porque falamos no plural ? Porque não dizer: "me dê hoje" ? Porque devemos ter sempre consciência de que existem mais pessoas à nossa volta, que nossas ações, atitudes e decisões influenciam a todos, de modo que sempre que recebemos algo de Deus, também temos o dever de compartilhar com nossos irmãos, de uma forma ou de outra. Também devemos pensar no próximo ao fazer nossas preces. Quando falamos nós é porque devemos ter em mente sempre as necessidades dos outros.
Finalmente, porque nos dai "hoje" ? Porque não esta semana, este mês ou esta vida ? Porque a oração deve ser uma obrigação diária. Como o trabalho. Não se trabalha um dia para viver o mês, se trabalha um dia de cada vez. Assim deve ser também com nossas preces, e conseqüentemente com nossa procura e ligação com Deus. Diária.
A quinta petição é: "Perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores".
Note-se aqui que já foram feitas duas petições para a alma e apenas uma para o corpo. Jesus, em sua prece, deu grande importância às coisas espirituais. Não esqueceu do corpo, pois sabia que saco vazio não pára em pé, mas deu o seu devido valor, concentrando-se naquilo que não perece nunca, que é o espírito em evolução.
De que dívidas estamos falando aqui ? Com certeza não é do crediário feito na loja. Nem do dinheiro que emprestamos de alguém. Nem mesmo dos erros que cometemos com nossos irmãos. Aqui nós falamos com Deus, e é das dívidas para com Ele a que nos referimos.
E que dívidas são estas ? São as desobediências que cometemos todos os dias às Suas leis. Como seres imperfeitos que somos, cometemos erros todos os dias. É impossível não cometer erro. É de nossa natureza. Não será para sempre. Haverá um dia que isso não acontecerá mais. Mas até lá tropeçaremos muito. E que fazer então ?
Primeiramente reconhecer nossos erros. Não podemos esperar que perdoem uma dívida que não sabemos se existe ou não. A auto avaliação, a auto crítica, devem ser constantes de nossas vidas. Elas não evitam que cometamos os erros, mas nos ajudam a pensar neles, e quem sabe na próxima vez, a nos lembrar do quão ruim foi ter feito aquilo antes, e talvez então diminuir ou até evitar estes erros.
Em segundo lugar, devemos estar preparados para perdoar. Não seria justo se Deus nos perdoasse, se não fôssemos capazes de fazer o mesmo. Assim devemos ter sempre o desejo sincero de perdoar a tudo o que nos acontece. Claro que falar é fácil, mas quando acontece fica realmente complicado. É por isso que isto é uma petição. Ao repetir estas palavras, não apenas nos dispomos a faze-lo, como pedimos força a Deus para consegui-lo. E se estivermos realmente dispostos, esta ajuda sempre estará presente.
A sexta petição é: "E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal".
Esta também é dividida em duas partes: A primeira nos fala de tentação. O que é isso ? São aqueles desejos irresistíveis que temos de fazer algo que sabemos ser errado. Parece estranho, mas é muito mais comum que pensamos ou percebemos.
Perante Deus, nós somos como crianças, assim, podemos usar este tipo de alegoria para ilustrar melhor nossas idéias. Se dermos todos os doces que uma criança quiser, o que irá acontecer ? Ela provavelmente passará mal. É por isso que não fazemos todas as vontades delas, pois elas não são capazes de compreender. Mas e nós. Se comemos doces antes das refeições o que acontece ? Na hora de comer, ficamos sem fome. Fica tudo por ai ? Claro que não. Acabamos não nos alimentando bem, e passamos fome pouco depois, quando em geral não temos mais chance de comer. Então sofremos. É por isso que não fazemos estas coisas.
Agora, aquela vontade de comer o doce, é uma espécie de tentação. Notem que é diferente da criança, que não sabe ou não compreende. Nós sabemos o que acontece. Nós entendemos que isso não é bom. Mas aquele doce … parece tão gostoso … Mas resistimos. Não comemos o doce agora. Guardamos para depois da refeição. E afinal e ficou melhor ainda.
Um doce não parece coisa muito grave, mas nossas vidas são cheias de exemplos de situações similares, em que temos que fazer alguma coisa, mas acabamos não fazendo, sucumbindo à tentação da preguiça. Ou que não podemos fazer alguma coisa, mas acabamos fazendo.
Deus não intervirá aqui. Ele nunca intervém. Deus respeita nossas decisões, certas ou erradas. Mas em nossas preces podemos pedir forças e discernimento. Força é dada pêlos amigos espirituais superiores, que nos acompanham e inspiram. O conhecimento só a experiência garante, mas podemos ouvir nosso bom senso, e ele em geral nos indicará o que é melhor fazer.
A segunda parte nos fala: "Livrai-nos do mal".
Que mal é este ? Deus é infinita bondade e perfeição. Ele nunca poderia criar o mal. Este mal a que nos referimos aqui é criação do próprio homem, como conseqüência das infrações às leis de Deus. Ao pedirmos para nos livrar do mal, pedimos, portanto, para que sejamos ajudados a não errar ou falhar em algumas destas leis.
Devemos estar conscientes que não existe fatalidade ao mal. Mesmo quando tudo parece cair sobre nós, não é por acaso, e sim como conseqüência de nossos erros. E se não vemos motivos, se fazemos tudo certinho mas os problemas persistem, lembremos que não vivemos apenas esta vida, e que muito do que passamos hoje é resultado do que fizemos ontem, e o que fazemos hoje é que irá determinar como será o nosso amanhã.
Finalmente chegamos à conclusão: "Assim seja".
Nós, espíritas, costumamos finalizar com "assim seja". Os de outras religiões costumam colocar aqui "Amém". Na verdade é a mesma coisa. Amém é uma palavra que vem do latim, e quer dizer exatamente "assim seja".
O que queremos dizer com isso ? Que nosso desejo é que as coisas sejam como estamos pedindo. Que aceitamos tudo o que Deus nos envia, na exata forma e medida, mas que ao encerrar nossa prece, colocamos nela nossas esperanças e desejos, e que por isso gostaríamos que fosse assim.
O desejo que aqui expressamos, é nossa parte humana, natural, sempre presente. A aceitação da vontade de Deus é o retorno ao princípio, à aceitação de Deus, assim, ao dizermos "assim seja" ou "amém", chamamos de vota a nós o Criador, e guardamos conosco esta última impressão, de Sua presença constante.
Em Mateus, capítulo 6, versículo 7, ele nos diz, "não useis de vãs repetições", como faziam os fariseus de seu tempo, e no versículo 8 diz, que Deus sabe o que nos é necessário antes mesmo de pedirmos, e complementa no versículo 9: "de modo que quando rezarem, façam assim:", e inicia a ensinar a prece. Com estas palavras, Jesus quer dizer que não existe uma fórmula para falar com Deus. Se assim fosse ele diria, repitam estas palavras. Mas não, ele disse, deste modo, com isso ele definiu a forma e não o conteúdo de nossas preces.
O Pai Nosso já foi chamado de um pequeno resumo dos evangelhos. Ela é curta de direta, densa em seu conteúdo e leve em suas palavras, é fácil e inteligível para qualquer pessoa. Usemos ela como um exemplo para nossas próprias preces.
A prece é dividida em três partes: 1. Prefácio, 2. Petições e 3. Conclusão.
Seu prefácio é composto de "Pai Nosso" e "Que estás no céu". Na primeira parte, logo surge um ponto importante. Quem é o pai a que ele se refere ? A segunda parte do prefácio nos indica isso, "que estás no céu". Obviamente não é aquele a quem costumamos chamar de pai, que nos trouxe ao mundo ou que nos criou. Jesus sempre se referiu a Deus como a Meu Pai, de modo que é a Ele a que a prece se direciona. Claro que a palavra céu aqui não é um lugar físico. Não é em cima nem em baixo, mas no universo, em toda parte. N’O Livro dos Espíritos, a primeira pergunta é, o que é Deus, e a resposta é: A causa primária de todas as coisas. Sendo Deus a causa primária, é a Ele que devemos dirigir inicialmente nossos pensamentos. Primeiro Deus, antes de tudo e de todos. É o que nos ensina o Pai Nosso.
Mas porque pai ? Que queria dizer Jesus com isso ? Em que sentido Deus é pai para nós ?
Primeiramente por criação. Uma vez que Ele é a causa primária de todas as coisas, Ele é também a causa de nossa existência. Devemos nossas vidas a Ele, assim, como criação d’Ele, criaturas feitas por Ele, podemos ser chamados também de filhos d’Ele.
Mas a aceitação deste fato implica em outro muito importante. Na medida quem e somos todos filhos d’Ele, e que Ele é um pai amoroso, infinitamente justo e bom, então somos todos iguais perante Ele. Em Lucas, capítulo 20, versículo 36 existe este comentário: "Pois que Deus faz seus filhos iguais em hora aos anjos". Assim, ao aceitarmos Deus como pai, aceitamos sua justiça e sua sabedoria. O que nos dá consolo, pois muitas vezes não entendemos o porque do que nos acontece, mas se Deus é justo e bom, então, seja lá o que for, é o mais certo para nós. Lembremo-nos que Jesus avisou antes, que Deus sabe o que necessitamos antes de pedirmos.
Também quando aceitamos a Deus como pai, criamos um vínculo com o nosso próximo. Lembre-se, é pai NOSSO, de todos nós. Não é pai meu, meu pai, pai de meu pai ou qualquer outra forma de apropriação. E se somos todos filhos do mesmo pai, temos a obrigação de aceitar e conviver com o próximo como nosso irmão. Assim, não temos mais um estranho sentado ao nosso lado, temos apenas um irmão que desconhecemos o nome. E por um irmão temos obrigações maiores do que para com um estranho. Gostemos ou não, ao irmão devemos ajudar quando preciso. Gostemos ou não, o irmão está ligado a nós. Ele pode não saber corresponder aos nossos sentimentos, mas isto não nos exime de nossa obrigação para com ele.
Assim, quando iniciarmos a oração, não digamos a frase "Pai Nosso" automaticamente. Façamos uma pausa. Meditemos, em tudo o que significa isso. Tudo o que quer dizer "Pai Nosso".
Em seguida vem a parte das petições, dos pedidos, são seis no total. O primeiro deles é: Santificado seja vosso nome. Porque santificar um nome ? No fundo Deus não tem nome. Nós o chamamos de diversas formas, mas não são nomes próprios. Alguns usam Jeová, outros Alá, mas não são nomes de verdade, são palavras de outras línguas que querem dizer a mesma coisa: Deus. Não é o nome de Deus que devemos santificar, pois ele não existe, mas a sua idéia, sua essência. Como Deus não tem nome, ele só pode ser concebido pela idéia do que Ele é.
O que é santificar o Seu nome então ?. É colocar Deus em nossas mentes e corações com respeito e amor o tempo todo. É reconhecer que Seu nome, Sua marca, está em tudo e todos nós, pois que tudo é obra d’Ele, desde a grama que pisamos até a maior das estrelas.
Santificar o nome de Deus é confiar em Sua sabedoria e bondade infinitas. É aceitar Seus desígnios sem reclamar. É obedecer Suas leis.
A segunda petição é: "Venha a nós o vosso reino". Que reino é esse ? Claro que é toda a criação. Deus reina sobre todos nós. Aceitar a Deus com um soberano, é aceitar também a Sua vontade, pois se somos súditos d’Ele, devemos obediência.
Mas que reino é esse que deve vir até nós ? Primeiramente podemos dizer que este reino não é político, local, não é um país, não é um sistema ou modo de vida material. O reino de Deus é espiritual. Ele existe na consciência de cada um de nós. Colocado lá, no momento de nossa criação, como centelha divina, ele é o destino para o qual fomos criados. O reino de Deus é a convivência com Ele, é a perfeição d’Ele. E esta perfeição só pode ser atingida pela evolução.
Porque queremos que este reino venha até nós ? Porque temos consciência de que não estamos nele. Sabemos que precisamos melhorar, aceitamos o fato de que cometemos erros. Assim, como o reino dele chega até nós ? É quando procuramos evoluir, quando tentamos, dia a dia, prece a prece, melhorar a nós mesmos.
E a melhor forma de evolução, é seguindo as leis de Deus. É procurando conhece-las, aceita-las e aplica-las. E Jesus já nos deu a maior delas, já informou que a primeira lei de todas, é amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. E o próximo, já vimos antes, é aquele nosso irmão. Distribuamos amor, como Deus distribui o tempo todo para nós.
A terceira petição é: "Seja feita vossa vontade, assim na terra como no céu".
Esta petição se divide em duas partes. Primeiramente "Seja feita a vossa vontade" vem nos lembrar a necessidade de aceitação dos desígnios do Pai. Já aceitamos Ele como tal, já compreendemos que Ele é infinitamente justo e bom. Agora, com esta frase, nos pedimos por duas coisas: aceitação passiva, que é ter paciência, tolerância e paz para tudo o que nos acontece que não podemos mudar e a aceitação ativa, na qual praticamos tudo o que Ele nos diz. Assim pedimos forças para perseverar, continuar em frente, não desanimar, conscientes de que tudo o que acontece é o melhor para nós.
Ao fazer a vontade de Deus, nós evidenciamos nossa sinceridade perante sua vontade, demonstramos ao próximo, nosso irmão, como ele deve agir também. Ao seguir as leis de Deus, seguimos também a lei de progresso, que nos faz evoluir. Isso tudo nos dá a certeza e garantia do dever cumprido. André Luiz, um espírito que escreveu muitos livros disse certa vez: "Àquele que faz o que pode, é garantido o salário da paz".
Na segunda parte da petição temos: "como no céu". Já comentamos que o céu a que nos referimos aqui não é lá em cima, mas no mundo espiritual, na vida não material. Claro que podemos fazer tudo muito bem aqui, na frente de todo mundo, mas qual a nossa intenção ao fazer isso tudo ? Ou seja, o que se vai em nosso íntimo ?
A parte do céu de que falamos, é o nosso eu interior, nossos sentimentos e vontades. Tudo o que fazemos, deve ser com pureza de coração. Podemos até errar. De fato erraremos mesmo, pois nosso caminho para a perfeição ainda é longo de difícil, mas com boa intenção. De nada vale ajudar o próximo apenas pensando no cantinho do céu que se está comprando. Jesus nos demonstrou isso na parábola da viúva. Mais vale um centavo dado de coração puro do que um milhão sem esta boa intenção.
Vale aqui um lembrete. Pureza de coração não é perfeição de coração. Não devemos esperar de nós melhor atitude daquela que somos capazes de dar. Se fazemos o bem, mas fica ainda uma dúvida: "Será que estou agindo com verdadeira pureza de coração", ainda assim, é melhor do que não fazer nada. Pois por pouco valor que tivesse aquele milhão perante o centavo da viúva, ainda era mais do que aquele que nada deu. A procura da perfeição é uma estrada longa, cheia de obstáculos. Não devemos desanimar, devemos seguir em frente, esta sim é a verdadeira mensagem de fazer a vontade de Deus.
A quarta petição é: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje".
Sua posição, após a última, que era "Seja feita Sua vontade" já é significativa. Primeiramente vem as coisas espirituais. Agora vem as coisas materiais.
Que pão é este que falamos aqui. É o alimento. Durante muito tempo, nos mais diversos povos, o pão sempre foi o símbolo do alimento. Não estamos pedindo aqui um pedaço de pão, mas o alimento necessário à nossa subsistência. Aos animais, Deus sempre provê, sempre garante o sustento, mas ao homem, é necessário o trabalho, "ganharás o teu pão com o suor de teu rosto". Assim, quando pedimos o pão, pedimos sim é a garantia do nosso sustento. Mas isso implica também que estamos dispostos a receber esta ajuda. Que quando as condições forem atendidas, nós faremos a nossa parte. Mas como assim ? Ora, basta lembrar que ninguém sai, de porta em porta oferecendo trabalho. Pelo contrário, é preciso lutar para conseguir e manter um trabalho. Esta é a nossa parte.
Jesus também falou, mais adiante, que nem só de pão vive o homem. Que quis ele dizer com isso ? Que o alimento que necessitamos vai muito além de nossa fome de comer. Temos fome de viver, fome de aprender, fome de crescer. Assim, esta fome também deve ser saciada.
Agora, quando no final da frase falamos: "nos dai", temos aqui mais algumas coisas para pensar. Porque pedimos a Ele que nos dê algo ? Aqui exprimimos o sentimento de que tudo o que é bom, vem de Deus. Tudo o que temos, tudo o que somos, são presentes de Sua bondade. Assim, se procuramos por coisas boas, vamos até Ele.
Mas porque falamos no plural ? Porque não dizer: "me dê hoje" ? Porque devemos ter sempre consciência de que existem mais pessoas à nossa volta, que nossas ações, atitudes e decisões influenciam a todos, de modo que sempre que recebemos algo de Deus, também temos o dever de compartilhar com nossos irmãos, de uma forma ou de outra. Também devemos pensar no próximo ao fazer nossas preces. Quando falamos nós é porque devemos ter em mente sempre as necessidades dos outros.
Finalmente, porque nos dai "hoje" ? Porque não esta semana, este mês ou esta vida ? Porque a oração deve ser uma obrigação diária. Como o trabalho. Não se trabalha um dia para viver o mês, se trabalha um dia de cada vez. Assim deve ser também com nossas preces, e conseqüentemente com nossa procura e ligação com Deus. Diária.
A quinta petição é: "Perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores".
Note-se aqui que já foram feitas duas petições para a alma e apenas uma para o corpo. Jesus, em sua prece, deu grande importância às coisas espirituais. Não esqueceu do corpo, pois sabia que saco vazio não pára em pé, mas deu o seu devido valor, concentrando-se naquilo que não perece nunca, que é o espírito em evolução.
De que dívidas estamos falando aqui ? Com certeza não é do crediário feito na loja. Nem do dinheiro que emprestamos de alguém. Nem mesmo dos erros que cometemos com nossos irmãos. Aqui nós falamos com Deus, e é das dívidas para com Ele a que nos referimos.
E que dívidas são estas ? São as desobediências que cometemos todos os dias às Suas leis. Como seres imperfeitos que somos, cometemos erros todos os dias. É impossível não cometer erro. É de nossa natureza. Não será para sempre. Haverá um dia que isso não acontecerá mais. Mas até lá tropeçaremos muito. E que fazer então ?
Primeiramente reconhecer nossos erros. Não podemos esperar que perdoem uma dívida que não sabemos se existe ou não. A auto avaliação, a auto crítica, devem ser constantes de nossas vidas. Elas não evitam que cometamos os erros, mas nos ajudam a pensar neles, e quem sabe na próxima vez, a nos lembrar do quão ruim foi ter feito aquilo antes, e talvez então diminuir ou até evitar estes erros.
Em segundo lugar, devemos estar preparados para perdoar. Não seria justo se Deus nos perdoasse, se não fôssemos capazes de fazer o mesmo. Assim devemos ter sempre o desejo sincero de perdoar a tudo o que nos acontece. Claro que falar é fácil, mas quando acontece fica realmente complicado. É por isso que isto é uma petição. Ao repetir estas palavras, não apenas nos dispomos a faze-lo, como pedimos força a Deus para consegui-lo. E se estivermos realmente dispostos, esta ajuda sempre estará presente.
A sexta petição é: "E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal".
Esta também é dividida em duas partes: A primeira nos fala de tentação. O que é isso ? São aqueles desejos irresistíveis que temos de fazer algo que sabemos ser errado. Parece estranho, mas é muito mais comum que pensamos ou percebemos.
Perante Deus, nós somos como crianças, assim, podemos usar este tipo de alegoria para ilustrar melhor nossas idéias. Se dermos todos os doces que uma criança quiser, o que irá acontecer ? Ela provavelmente passará mal. É por isso que não fazemos todas as vontades delas, pois elas não são capazes de compreender. Mas e nós. Se comemos doces antes das refeições o que acontece ? Na hora de comer, ficamos sem fome. Fica tudo por ai ? Claro que não. Acabamos não nos alimentando bem, e passamos fome pouco depois, quando em geral não temos mais chance de comer. Então sofremos. É por isso que não fazemos estas coisas.
Agora, aquela vontade de comer o doce, é uma espécie de tentação. Notem que é diferente da criança, que não sabe ou não compreende. Nós sabemos o que acontece. Nós entendemos que isso não é bom. Mas aquele doce … parece tão gostoso … Mas resistimos. Não comemos o doce agora. Guardamos para depois da refeição. E afinal e ficou melhor ainda.
Um doce não parece coisa muito grave, mas nossas vidas são cheias de exemplos de situações similares, em que temos que fazer alguma coisa, mas acabamos não fazendo, sucumbindo à tentação da preguiça. Ou que não podemos fazer alguma coisa, mas acabamos fazendo.
Deus não intervirá aqui. Ele nunca intervém. Deus respeita nossas decisões, certas ou erradas. Mas em nossas preces podemos pedir forças e discernimento. Força é dada pêlos amigos espirituais superiores, que nos acompanham e inspiram. O conhecimento só a experiência garante, mas podemos ouvir nosso bom senso, e ele em geral nos indicará o que é melhor fazer.
A segunda parte nos fala: "Livrai-nos do mal".
Que mal é este ? Deus é infinita bondade e perfeição. Ele nunca poderia criar o mal. Este mal a que nos referimos aqui é criação do próprio homem, como conseqüência das infrações às leis de Deus. Ao pedirmos para nos livrar do mal, pedimos, portanto, para que sejamos ajudados a não errar ou falhar em algumas destas leis.
Devemos estar conscientes que não existe fatalidade ao mal. Mesmo quando tudo parece cair sobre nós, não é por acaso, e sim como conseqüência de nossos erros. E se não vemos motivos, se fazemos tudo certinho mas os problemas persistem, lembremos que não vivemos apenas esta vida, e que muito do que passamos hoje é resultado do que fizemos ontem, e o que fazemos hoje é que irá determinar como será o nosso amanhã.
Finalmente chegamos à conclusão: "Assim seja".
Nós, espíritas, costumamos finalizar com "assim seja". Os de outras religiões costumam colocar aqui "Amém". Na verdade é a mesma coisa. Amém é uma palavra que vem do latim, e quer dizer exatamente "assim seja".
O que queremos dizer com isso ? Que nosso desejo é que as coisas sejam como estamos pedindo. Que aceitamos tudo o que Deus nos envia, na exata forma e medida, mas que ao encerrar nossa prece, colocamos nela nossas esperanças e desejos, e que por isso gostaríamos que fosse assim.
O desejo que aqui expressamos, é nossa parte humana, natural, sempre presente. A aceitação da vontade de Deus é o retorno ao princípio, à aceitação de Deus, assim, ao dizermos "assim seja" ou "amém", chamamos de vota a nós o Criador, e guardamos conosco esta última impressão, de Sua presença constante.
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